Somos jovens, evangelizando jovens!!

Somos jovens, evangelizando jovens!!

Formação

(Artigo de Rogério Oliveira, assessor da PJ de São Paulo) 

                                             Disponível em:  http://pejotando.blogspot.com/

É interessante a reação do mundo real frente a este blog. Fico muito feliz e entusiasmado para fazer mais e melhor. Colegas de pastoral, jovens, assessores, coordenadores de grupo me escrevem, ligam ou simplesmente falam quando me encontram me passando temas para escrever, pedindo para acrescentar esta ou aquela pergunta ou fazer uma ou outra abordagem.  E tenho visitado vários blogs e sites pejoteiros e de juventude por aí. Há muita coisa boa esparramada pela rede. Há muita gente pejotando por aí. E tudo isso mexe muito comigo.

Como eu escrevi em outros artigos, há um elemento por trás de tanto entusiasmo que sustenta a nossa prática pastoral e que nos ajudam a superar boa parte dos desafios: a nossa espiritualidade. É ela quem dá a “liga”, que une os outros elementos e não nos deixa desanimar. Por isso os primeiros artigos são sobre a espiritualidade pejoteira. E por isso também que as próximas duas perguntas tratam deste tema também. E com elas chegamos a metade das nossas perguntas. Neste artigo trataremos da primeira delas.


19.    Seu grupo vive uma espiritualidade libertadora?

Esta é uma pergunta que eu faria para a coordenação de um grupo que quer ter uma identidade pejoteira. Lógico que a metodologia é importante, a formação é fundamental, o conhecimento histórico idem, a integração com outros grupos também. Mas a cada dia eu me convenço mais de que é a espiritualidade quem define o rosto da PJ. Toda celebração pejoteira mexe com a minha emoção e me dá mais vontade de me empenhar nesta causa.

Eu já fiz um artigo que falava da dificuldade em se viver a espiritualidade e outro onde dava algumas características da espiritualidade pejoteira. Esta deve ter todas as características de uma espiritualidade libertadora. Quais são elas? Dom Pedro Casaldáliga, em seu livro “Nossa Espiritualidade”, apresenta alguns traços:
  • é baseado no seguimento de Jesus e do Evangelho. É, antes de tudo cristã, seguindo Jesus e sua causa;
  • ela encontra Deus no serviço e comprometimento com os pobres. É uma fé política e social, é espiritualidade engajada, consciente e crítica;
  • é profética: denuncia as injustiças e anuncia o Reino;
  • é evangélica, baseada no Evangelho e nas opções evangélicas pelos pobres, os excluídos, os pequenos, os humildes;
  • é contemplativa na libertação, mística de pés-no-chão e mãos calejadas, alimenta-se da práxis e encontra força e coragem na intimidade com o Deus vivo;
  • herdeira do testemunho dos mártires, disposta a fazer sacrifícios e renúncias em favor do Reino;
  • vive o espírito de diálogo com as religiões, cristãs ou não, em vista da paz;
  • tem o Reino de Deus como centro e a opção fundamental; quer-se construir o Reino, aqui e agora, em nossa sociedade, em nossos lares, em nossa vida, comprometidos com a construção do Reino;
  • é comunitária, partilhando a vida, as alegrias, as lutas e as tristezas do povo simples;
  • exige comprometimento e entrega da vida total.
Quem vive esta espiritualidade libertadora não olha com indiferença a realidade social em que vivemos e a confronta com os ideais evangélicos e com a postura de Jesus. Por isso a PJ encampou a “Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens”. Por isso a PJ é contra a redução da maioridade penal. As posturas que temos são motivadas pela fé que professamos.

Claro que é um processo conseguir vivenciar esta espiritualidade no grupo de jovens. É uma fé vivida na prática, no dia a dia, no cotidiano mesmo.  Por isto que as músicas da PJ falam da realidade, cantam a vida, as tristezas, as angústias, a alegrias e as esperanças do jovens. Por isto que usamos cores, luzes, cheiros e sabores em nossas celebrações. Por isto que dançamos, por isto que rezamos, por isto que olhamos para a vida de Jesus e de tantos santos e santas, mártires e profetas e não desanimamos.

 

Espiritualidade é o que dá a “liga” – parte 2

Pense num preconceito qualquer. Sabe como ele se difunde? Por repetição. E se uma pessoa com um pouco mais de influência sobre outras acaba propagando esta ideia, o preconceito se difunde mais. Quer um exemplo bem ligado ao tópico deste blog? “A PJ não tem espiritualidade”. Ô meu Deus, já perdi a conta de quantas vezes eu tive que contra-argumentar a respeito disto. E debati com gente que, inocentemente, repetia algo que havia ouvido, com gente esclarecida que simplesmente não havia ouvido um argumento contrário e com gente maldosa que espalhava o preconceito de propósito.

Gostariam de um exemplo da justificativa que alguns me davam para se manterem nesta opinião? “Quem é da PJ não gosta, não participa ou não vai nas missas”. O sujeito tira uma meia verdade particular e a transforma numa verdade universal. “Meia verdade, Rogério??? Particular? Como assim? Explique melhor”. Este é o assunto da 20ª pergunta, e com ela chegamos à metade da nossa série.

20.    Missas são importantes?

Sim. São importantes. As missas, em especial, e as celebrações da palavras, em particular, são momentos de vida comunitária, de reabastecimento da fé de muitos jovens. E por isso são importantes.

Se é assim, por que eu coloquei que o argumento preconceituoso de que o jovem da PJ “não gosta, não participa ou não vai nas missas” é uma “meia verdade particular”? É particular porque quem usa deste argumento fala de sua realidade local. Eu conheço dezenas, senão centenas, de jovens que participam ativamente das celebrações e da vida comunitária e são pejoteiros até o fundo da alma. Como também conheço muitos outros jovens que tem algumas dificuldades em participar das celebrações em suas próprias comunidades.

“Vocês da PJ não incentivam os jovens a participar da missa nas comunidades”. Outro argumento preconceituoso. Claro que também há pejoteiro mal esclarecido e que desconhece que a comunidade é um dos primeiros lugares onde o jovem vai encontrar sementes do Reino de Deus. A vida comunitária é importante. E ponto.

Pode ser uma falha na formação desta liderança jovem? Pode ser sim. Como também pode ser uma falha da comunidade, das suas lideranças mais antigas (não digo velhos, porque há muito jovem como liderança antiga de comunidades) e dos seus celebrantes também. Onde cabe a celebração dentro da vida comunitária? A vida litúrgica da Igreja é um dos três elementos da sua essência, juntamente com a ação profética e o serviço. Didaticamente, podemos dizer que está bem entre as outras duas. O padre Agenor Brighenti, em seu livro “A pastoral dá o que pensar: a inteligência da prática transformadora da fé” explica isso bem:


“Para além, e, em certa medida, “antes” da liturgia está a pastoral profética – o testemunho (martyría), o anúncio (querigma), a catequese (didaskalia) e a reflexão teológica (krísis). (...) Mas há também um “depois” da liturgia, enquanto tempo da comunidade ou de serviço. (...) O que se celebra na ação litúrgica – a ação redentora de Jesus Cristo – é vivido simbolicamente para ser testemunhado e partilhado na vida pessoal, comunitária e social”.

Isso significa que para celebrar plenamente, o jovem teve de ser cativado pelo testemunho de vida de alguém, que antes de anunciar que era seguidor do projeto de Jesus, mostrava em suas ações que isto era autêntico. O jovem se motiva a fazer a catequese de iniciação e busca as raízes teológicas para dar “razões à própria fé”.

Dentro da celebração litúrgica, ele se sente inteiro, não só razão, nem só emoção entrando em comunicação com o mistério. Ele também participa conscientemente para que a liturgia se torne algo vivencial, experiencial e ligado à vida. E participa também ativamente da celebração, como toda a assembleia, não fica só “assistindo”.

O jovem bem formado pela comunidade e pela PJ sabe que a celebração não é algo de mágico ou de compreensão  plenamente intelectual, mas é algo vivenciado dentro de sua própria cultura. E tem de ser assim. Um rito que é incompreensível não diz nada além de que é algo mágico ou fora da realidade. Se celebramos a vida, celebramos a festa, com símbolos, cores, gestos e como o corpo. Lembra-se, sim, dos fatos passados, fazendo experiência deles no presente, mas conscientes de que a plenitude se dará no futuro.

E como lembra o padre Agenor, há o depois da celebração que é a pastoral do serviço. Não dá para o jovem (como qualquer pessoa da comunidade) achar que a missa por si só basta. Ela é alimento para a vida cotidiana. E um alimento que nos impele a fazermos da nossa realidade um sinal do Reino que vivenciamos nas celebrações.

Vocês da PJ não incentivam os jovens a participar da missa”. Se for verdade isto, então nos ajudem na boa preparação destas lideranças jovens e cuidem para que as celebrações não sejam meras repetições de um rito, mas que sim lugar de festa e de criação de ânimo para que o Reino aconteça fora dos muros eclesiais.
Fonte: Rogério Oliveira

Grupos de jovens  (Rogério Oliveira)

 Passando por alguns grupos, paróquias, dioceses, movimentos e encontros juvenis, há alguns questionamentos que sempre aparecem. Em listas pela internet ou comunidades de PJ em sites como orkut há sempre problemas comuns. Penso que falar sobre eles e lançar algumas alternativas seja uma boa proposta para tratarmos aqui. Digo novamente, não quero dar fórmulas prontas, porque elas não existem. Cada um conhece a sua realidade e pode aplicá-las ou não de acordo com a criatividade que se tem e como a necessidade pedir.

Você que está lendo agora, pode até achar que algumas destas perguntas não tem propósito nenhum. Mas não se engane. Muitos jovens já se questionaram a respeito de alguns destes temas. E creio que hoje alguns ainda estão se questionando. É uma contribuição minha e sua, na medida em que você que está lendo também pode comentar. Fique a vontade.



Ao todo, são quarenta perguntas. Por que este número? Primeiro porque dá para falar de um bocado de coisas. Segundo porque o número em si tem uma série de referências na Bíblia: 40 anos que o povo de Deus peregrinou no deserto, 40 dias que Jesus jejuou no deserto e 40 dias que ele permaneceu com os discípulos depois da ressurreição, o dilúvio que durou 40 dias e 40 noites. É um número que para o povo hebreu revela completude, fim de um ciclo e início de outro. E hoje, para os católicos, o que é a quaresma? São quarenta dias após o carnaval em preparação à Semana Santa, quando meditamos e tentamos fazer da nossa vida algo melhor em preparação à esta grande festa cristã. Quarenta está bom para você?

A minha idéia é colocar uma, duas ou três perguntas por artigo e tentar fazer um ou dois artigos por semana, de modo que a leitura não fique cansativa e que dê um tempo razoável para uma boa leitura àqueles que acompanham este blog. No fim de tudo, a idéia é fazer um índice para referência geral.
Isto posto, vamos às primeiras perguntas! Boa leitura!

1.    Um grupo de jovens é importante?
A resposta mais óbvia em nossas comunidade é dizer que sim. Mas não sejamos óbvios. Antes de sermos tão diretos, é bom que se pensem duas coisas: importante para quê e para quem. Cansei de ver grupos de jovens por aí que eram simplesmente mão de obra barata, juventude organizada para fazer eventos. Certamente que esta é uma etapa importante para qualquer grupo de jovens, mas não pode ser um fim para si próprio. A proposta de um grupo de jovens da Pastoral da Juventude é ir além disso.

O documento de Aparecida nos pede que sejamos Discípulos e Missionários de Jesus, ou seja, seguidores de Seus passos e mensageiros de Seu projeto. Nada disso se faz sem um bom preparo, sem método ou sem acompanhamento. Grupo de jovens é importante sim, se for um espaço de reflexão da vida, iluminada pelas opções evangélicas vividas, testemunhadas e anunciadas por Jesus e espaço também para que se possa planejar uma ação dentro e fora dos muros da comunidade eclesial. Jesus disse que não veio para as pessoas sadias, mas para as doentes. Há muito o que se fazer por e junto com tanto jovens que só tem uma idéia remota do que quer dizer cristianismo. Fazer sozinho é difícil. Fazer em grupo é a solução mais clara.

Um grupo de jovens não é só um espaço para discussões teóricas. Fala-se e partilha-se vida. E com isso as pessoas crescem. Muito se aprende na convivência sadia de um grupo assim. Quanto mais a teoria dialogar com o cotidiano melhor. Quanto mais as pessoas se formarem criticamente diante da realidade, melhor. As opções e projetos de vida são partilhados e amadurecidos no grupo. E não há quem diga que isto não seja importante.

2.    Por onde devo começar?
Começar o quê? Um grupo novo? A reerguer seu grupo que estava desanimado, cabisbaixo, jururu? Acho que é mais interessante falarmos de um grupo novo por ora. Se o seu caso é o outro (o do grupo jururu), veja se algo do que vem abaixo lhe serve também. Certamente haverá nas outras perguntas, inclusive, algo que lhe será útil.

Onde a maioria dos grupos de jovens hoje começam? Com remanescentes da catequese de crisma. Há um erro, um acerto e um alerta nesta opção. Qual o erro? A catequese crismal é (mas não deveria ser) um fim em si mesma, ou seja, o objetivo último de muitos jovens que estão ali é receber um sacramento e não a continuidade de uma vida cristã amadurecida. Na minha cabeça, um grupo de jovens sempre deveria acontecer antes de um grupo de crisma. Só receberia o sacramento da confirmação o jovem que já estivesse comprometido com a sua comunidade de fé.

Qual o acerto desta escolha? É o de dizer à estes jovens que há um espaço na comunidade para que eles possam por em prática tudo o que vivenciaram durante o seu período de catequese e experimentar novas formar de se viver em grupo.

Por fim, qual o alerta? Gente, não vamos dar remédios para os sadios! Há muitos outros jovens fora dos muros das igrejas. Eles estão nas praças, nas escolas, nos clubes, nas faculdades, nas esquinas. São amigos dos amigos dos amigos dos jovens que vocês conhecem. Sempre há um canal para se entrar em contato com eles. Os jovens que vieram do crisma não são a “salvação da lavoura” ou a única alternativa!! Como dizia Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”.

Na PJ, chamamos esta etapa de “convocação”, é quando o grupo está se formando. O contato pessoal é importantíssimo.  Conhecer cada pessoa, saber seu nome, fazer o convite, tal qual fez Jesus: “vem e segue-me”. Não há, porém, “receita de bolo” para fazer isto. Quem convida, precisa saber o que motiva ou pode despertar no jovem o interesse em participar e se o seu grupo tem este ambiente que ele espera. Isto tem que ser bem organizado, preparado e feito de forma criativa e atrativa.

Se estes jovens puderem olhar para a vida daqueles que os convidam e ver algo novo, bonito e atrativo é um grande passo. O testemunho daquilo que vivemos diz muito mais do que belos discursos.
3.    Qual a identidade de seu Grupo?
Uma das definições de identidade no dicionário é a de que é um “conjunto de características e circunstâncias que distinguem uma pessoa ou uma coisa e graças às quais é possível individualizá-la”. Ou seja, a identidade marca aquilo que você é e o distingue dos demais.
Os jovens se juntam em grupos pelos mais diversos motivos. Dentre eles está o de “não sobrar”, como disse Regina Novaes. O grupo, seja ele qual for, ajuda o jovem a construir a sua identidade ao se espelhar naquilo que é “natural” para o grupo, seus valores, crenças, preconceitos e ética.
Quando olhamos para os nossos grupos eclesiais, há muito em comum e muito também em particularidades. O que é comum? O fato de serem grupos de igreja, partilharem a mesma fé católica e terem por base alguns princípios e valores cristãos. E o que estes mesmos grupos tem de particularidades? A maneira como vivenciam a fé e aplicam estes princípios e valores cristãos, os lugares onde estão, a idade e a experiência dos participantes, a postura das coordenações, se tem ou não tem assessoria, se a comunidade apoia ou não, se estão ou não ligados a outros grupos de outros lugares, se há mais moças ou rapazes no grupo, se há participantes com alguns dons artísticos. Daria para falar tantas particularidades diversas entre os grupos que talvez não coubessem aqui.
São estas particularidades que definirão a identidade do seu grupo. E serão elas que ajudarão os jovens que participam a formarem parte de suas próprias identidades. A identidade dos grupos da Pastoral da Juventude se pauta também pela diversidade. Afinal existem grupos de PJ nas diversas realidades regionais do país. A maioria destes grupos são de jovens empobrecidos e enxergam em Jesus Cristo aquele que faz opção pelos pobres e jovens e por isso o seguem. Grupos de PJ se reúnem para partilhar e celebrar a vida, as lutas, sofrimentos e cultivar a amizade, a partir de uma formação integral e mística própria. São grupos que, motivados pela fé, atuam dentro das comunidades eclesiais, a serviço da organização e animação das comunidades. São grupos que são organizados  a partir das coordenações dos grupos, paróquias, setores ou regiões pastorais, diocese e regional, ligados a Igreja do Brasil e da América Latina. São tantas experiências que ajudam a criar unidade na diversidade.
Grupos de PJ seguem uma metodologia e tem uma linha de atuação pastoral definida, mas são abertos às novidades. Garantem o protagonismo juvenil e expressam a fé que tem de forma criativa. Eles também atuam na sociedade, inseridos nos movimentos sociais, em partidos políticos, nos movimentos populares e outras organizações que lutam em defesa da vida e da dignidade humana. São grupos que preservam e incentivam um olhar crítico aos meios de comunicação social e que acreditam na Civilização do Amor. Esta é a nossa identidade

4.    O que fazer para o grupo se unir mais?
Um grupo se une pelos mais diversos motivos. Pode-se citar a amizade e um mesmo objetivo comum como sendo os dois principais motivos de união.
Quando se quer bem a alguém, também se quer estar próximo a esta pessoa, partilhar de bons momentos e estar presente para consolar nas horas difíceis. Criar esta proximidade entre as pessoas leva tempo e também disposição em estar aberto ao outro. Por isso, num grupo, o clima de confiança mútua é fundamental.
Fofocas estragam qualquer tentativa de união porque rompem os laços de confiança. Há quem diga que as “panelinhas” também são ruins. Eu, porém, acho que, se bem trabalhadas, elas podem potencializar o que estes mini-grupos tem de melhor. Depende da forma como se conduz.
Volto a dizer que é preciso perceber no grupo os dons individuais para que estes possam estar a serviço dos demais, não como forma de engrandecimento pessoal, mas como um jeito de fazer com que todos no grupo possam crescer juntos.
Para colaborar com isso, e creio que todos já sabem, os momentos de lazer são imprescindíveis. Não há como abrir mão deles. Na hora do lazer, da diversão e da brincadeira, a gente conhece melhor os jovens com quem trabalhamos e acabamos por descobrir afinidades que nem imaginaríamos.
A outra maneira de unir mais um grupo é fazê-lo enxergar os objetivos comuns e a reafirmar a identidade do grupo em si. Como foi dito antes, cada grupo tem sua particularidade e esta pode se manifestar nos objetivos que o grupo tem. É preciso que estes estejam claros para todos os participantes. Ninguém gosta de embarcar numa canoa furada. Animar a realização dos pequenos passos em busca do objetivo maior é sempre momento celebrativo e de alegria. Deve sempre ser valorizado.
5.    Conhece bem as pessoas do seu grupo?
Conhecer pessoas é mais do que saber o nome delas, o que já é muitíssimo importante. O grupo de jovens da Pastoral da Juventude é um espaço para se conhecer, deixar-se conhecer e conhecer o outro. E como isso pode se dar? Já foi dito anteriormente que é preciso criar um clima de confiança e amizade dentro do grupo. Isto pode acontecer nos momentos formais (encontros, missas, formações), contudo é na informalidade que a pessoa se mostra mais e apresenta o que ela é.

Celebrar aniversários dos participantes, visitar a casa deles, ser apresentado aos pais, irmãos, tios e cachorros, saber quais comidas os colegas do grupo gostam, ir a um cinema juntos, chamar para assistir um filme em casa, ir com todo o grupo a um parque, sítio, zoológico, churrascada (verdurada para quem for vegetariano) ou na sorveteria, chamar para jogar um futebol, vôlei ou basquete na quadra da escola, paróquia, clube ou numa rua menos movimentada mesmo ou ainda sentar um dia com o colega do grupo para bater um papo sobre os acontecimentos de onde vocês moram.

Repito, é na informalidade do grupo que a gente se dá a conhecer mais. E a gente é muito mais do que aparenta ser quando se está na Igreja ou no grupo. O grupo ajuda a formar nossa identidade? Claro que sim! Mas o que somos é resultado de diversas outras influências. Saber um pouco a respeito das influências da vida de cada um do grupo ajudará com que as pessoas se conheçam mais umas às outras e também a si mesmas.

6.    O que fazer para ninguém ser deixado de lado?
Você leu o artigo dos “10 mandamentos de um bom coordenador” quando falamos da empatia? Pois bem, ter empatia é característica importante de quem está a frente de um grupo, mas é também desejável que todos os participantes sejam estimulados a cultivá-la.

Há pessoas que tem uma natureza mais tímida, há outros que são mais observadores, há quem se sinta constrangido em falar quando há tantos que falam, como também há aqueles que passaram por algum problema com alguém do grupo e não querem se expor. Já vi e passei por situações como estas, entre tantas outras e digo que aquela pessoa que está a frente do grupo deve tentar se aproximar daquele que está mais afastado e, informalmente, tentar descobrir o que acontece com ele.

Se é timidez, constrangimento ou mesmo uma característica pessoal de ser mais observador, o coordenador pode estimular a pessoa a se expressar mais durante os encontros e nos momentos informais do grupo. Pode também contar com os amigos mais próximos desta pessoa para “provocá-lo” a se expor mais, sem constrangimento, claro.

Quando alguém é deixado de lado ou quando se isola do grupo por divergências entre os integrantes, a primeira solução é sentar com todos os envolvidos para por em pratos limpos os motivos que levaram a tal fato. A empatia também deve ser levada em consideração aqui também, pois é preciso ouvir todos os lados da história, colocando-se no lugar dos envolvidos, mas, livre das paixões que estes momentos carregam, tentar buscar uma solução conciliadora e justa.

7.    Pode entrar gente nova no grupo?
Que feche esta página quem nunca conheceu um grupo que depois de meses e meses de caminhada não aceitou gente nova no grupo. Na base do achismo, não creio que exista um grupo que não tenha passado por isso. Eu já fui radicalmente contra esta postura, mas ultimamente venho revendo os meus conceitos. E digo o porquê.

Tradicionalmente, a caminhada dos grupos na PJ se dá pela convocação, nucleação, iniciação e militância. A maioria dos grupos que conheci fracassaram na fase da iniciação por falta de amparo, formação e acompanhamento. E a tentação dos remanescentes é buscar gente nova para a “idéia do grupo de jovens” não morrer. Se isso acontece sem solucionar os problemas que levaram o grupo ao primeiro fracasso, logo vai levar a um segundo, terceiro e por aí vai. Outro agravante a respeito da entrada de gente nova no grupo é a constante retomada de assuntos e formações. Os mais antigos podem se cansar de tanto retroceder para que os mais novos sejam atualizados e sentir que não se avança.

Mas há sim a possibilidade de que gente nova entre num grupo de mais tempo de caminhada. Duas coisas são importantes para que isto dê certo: a boa receptividade dos integrantes mais antigos e o acompanhamento particular dos integrantes novos. É este acompanhamento que dará aos novos membros a atualização necessária para que não fiquem “boiando” nas conversas do grupo.

E seu grupo? Aceita pessoas novas? Como isso se dá por aí?

Para ser um bom coordenador de PJ

Uma coisa que eu sempre notei nos cursos que dou é que o povo adora dicas! E dicas com números parecem que são coisas mágicas!!! Quando eu falo: "Agora vou apresentar cinco pontos que todo assessor deve prestar atenção para exercer bem seu ministério", o povo se arruma nas cadeiras e presta mais atenção. É nítido. E bem bacana também.

Isso não é novidade. Basta ver os 10 mandamentos. É uma forma rápida e prática de se guardar conceitos importantes. O Pe. Jorge Boran também percebeu isso e lançou num de seus livros, "Juventude, o grande desafio", de 1982, os 10 mandamentos de um bom coordenador. Se você colocar num site de buscas qualquer esta expressão deve encontrar o texto do Pe. Boran, talvez sem os créditos. Mas se quiser ir direto a uma fonte confiável clique aqui.

Tomo a liberdade de pegar este texto original e dar uma versão minha a ele. Para o artigo aqui não ficar muito grande, reproduzo hoje somente os cinco primeiros. Numa outra data, mando os próximos cinco. Claro que cada um destes "mandamentos" dariam um artigo bem bacana para ser aprofundado. Quem sabe ainda não possamos fazer isto juntos?

Vamos aos cinco primeiros:

1) Ter visão do objetivo do grupo
Este primeiro mandamento está profundamente ligado aos demais e é o mais importante deles. O coordenador precisa saber qual é o objetivo do grupo para permitir que o grupo todo cresça e caminhe em direção a ele. Se é um grupo de PJ, voltamos àquela história já apresentada aqui. Um grupo de PJ caminha dentro da missão da PJ, a partir de sua realidade, mas buscando sempre o Reino de Deus. Isso não é fácil. Quem está a frente de um grupo precisa se preparar, continuar aprofundando seus conhecimentos, através de cursos, leituras, troca de ideias, acompanhamento. Ele precisa saber que "nenhum cego pode guiar outro cego. Se fizer isto, os dois cairão num buraco" (Lc 6,39).

2) Entender de metodologia
Ótimo, você sabe onde quer chegar, mas que passos, por quais caminhos, desvios, obstáculos o seu grupo pode e deve passar? A escolha do melhor caminho tem tudo a ver com a metodologia. Pessoalmente eu entendo que o melhor caminho não é o mais suave, mas o que apresenta também as dificuldades que o grupo, no seu tempo certo, terá a possibilidade de superar. Quando tudo é fácil, é difícil se dar o devido valor. Quando é conquistado a duras penas, o sabor é mais gostoso. O conflito, o diferente, o oponente é uma oportunidade que o grupo tem de aprender. A realidade nem sempre é fácil. É preciso entendê-la para transformá-la. É preciso paciência porque este é um processo lento.

3) Saber conduzir uma reunião
Sobre esse assunto dá para falar muito. Dá para mais de um artigo!! Vou tentar ser breve. Num primeiro momento é preciso que a reunião esteja bem preparada e que, num planejamento a longo prazo, ela tenha o seu significado e esteja dentro daquilo que se pensou para os objetivos daquele ano (ou semestre). Ou seja, que a gente possa fazer "a parte", mas pensando "no todo". Tendo isto em mente, é preciso um cuidado enorme: na PJ conduzir uma reunião não é dizer o que os outros tem que fazer ou saber. É ajudá-los a descobrir os melhores caminhos e chegar em suas próprias conclusões. Como disse o Pe. Jorge Boran, o coordenador pega o exemplo de Jesus ao conversar com o povo. Não dava respostas, mas fazia as perguntas certas. E quando todos partilharam as opiniões, ele arremata, dando o devido valor a cada contribuição que os demais participantes deram. E não vamos nos esquecer de um "detalhe" importante. Reunião de grupo de PJ não é pesada. Tem espiritualidade do dia a dia e dinâmicas para ajudar no tema. Que se prepare bem estes momentos também.

4) Ser bom cobrador
Se um assunto é decidido pelo grupo e assumido por algumas pessoas, é importante que isto seja feito. Gerar frustrações num grupo é perigoso para as relações que são criadas. É tarefa de quem está coordenando um grupo de cobrar as ações e funções que o grupo decidiu. Faz parte do amadurecimento do grupo. O "tom" das cobranças vai da sensibilidade do coordenador. Há momentos de cobrança mais firmes e há momentos de cobrança mais fraterna. O que não pode é ficar só mandando que os outros façam ou fazer por eles quando perceber que o que foi planejado não vai dar o fruto desejado. Ou pior: ver que não vai dar em nada e não fazer nada também. Cobrar, durante o processo, faz com que os jovens levem a sério as decisões que eles mesmos tomaram. Valoriza os passos dados.
  
5) Saber controlar o tempo
Quantos encontros de PJ que eu já vi e que o povo que coordenava se perdia no controle do tempo... Muitos e muitos. Nos meus primeiros "manuais" de PJ havia uma figura que aos poucos fomos retomando nos encontros em que eu ajudei a equipe de coordenação: a figura do cronometrista. É preciso planejar adequadamente o tempo a ser gasto e o nosso cronograma tem de ter as devidas "folgas" para os momentos de "surpresa" que todo encontro tem (aquele debate bom que durou mais tempo que o previsto, uma contribuição bem colocada que gerou uma polêmica interessante...). Aliado a isto tudo o cronometrista que sabe o que vai acontecer e toma o cuidado para que tudo corra conforme o planejado. Quem está a frente de um grupo precisa dar exemplo também. Chegar atrasado, começar atrasado, arrastar uma discussão além do que se deve é algo complicado. O controle do tempo dá também o "tom" de maturidade e responsabilidade para o grupo.
6) Ter boa capacidade de organização
Uma pessoa organizada sabe o que faz, como faz e porque faz. Sabe dos recursos que dispõe e como usá-los da melhor forma. Como isso se reflete na nossa PJ? Uma coordenação organizada planeja os encontros (do semestre ou do ano) de forma que os assuntos, temas e eventos se encaixem; prepara antecipadamente cada encontro, sabendo do material que vai usar; sabe que é necessário o acompanhamento dos jovens; avalia bem cada evento e a caminhada em si com os demais participantes do grupo.
Não se trata, porém, de ser um burocrata pastoral e não dar chance para o improviso e o imprevisto. A nossa vida não é tão "causa-consequência" ou "ação-reação". Há eventos que ocorrem na vida do grupo que fogem do controle da coordenação. No ano passado, por exemplo, um grupo que acompanhamos no IPJ ficou no caminho para a casa de encontro quando o ônibus que levava os jovens atolou. Ninguém imaginaria isso. Improvisamos umas tochas e fomos caminhando e cantando e seguindo a canção até chegarmos no destino. Claro que era pequena a distância (cerca de dois quilômetros), mas este fato em si ajudou muito na experiência do grupo, porque aproveitamos do ocorrido para exemplificar, durante o encontro, as dificuldades de um grupo na sua caminhada pastoral.
Quando falou deste "mandamento", o Pe. Boran frisou a questão da avaliação. E de fato elas são importantíssimas para o desenrolar da caminhada grupal. Ajuda a corrigir as falhas de trajetória e pode contribuir muito para que os jovens sintam que o trabalho avança. Às vezes o erro no grupo é bem vindo se for bem avaliado e assimilado. Ajuda o grupo a crescer se as causas do erro forem bem compreendidas.

7) Saber despertar novas lideranças
Acho que este mandamento foi o primeiro que aprendi na minha caminhada de PJ. "Coordenador bom é aquele que prepara outro para substituí-lo". "Coordenação eterna não presta". "Coordenador não fica para semente". E eu assumi isso como uma verdade para mim. Existe uma coisa muito enganadora neste mundo da coordenação: o status! O coordenador do grupo (ou da PJ) é amigo do padre! Pessoalmente eu tive a sorte de ser amigos de vários párocos que passaram pela minha comunidade. Mas acho que também cumpri este mandamento. Tanto na comunidade, na paróquia, na diocese, na sub-região e na Lista da PJ eu não fiquei mais de dois anos na coordenação. E creio que sempre ficaram pessoas melhores depois que eu saí.
Quem assume o serviço de coordenar um grupo precisa saber que existem dons variados na juventude, inclusive o dom de coordenar. Há dons que afloram naturalmente, há outros que aparecem na experimentação, ou seja, delegando tarefas para que outros façam. Pode ser que numa destas oportunidades, alguém se destaque. E neste destaque é preciso mostrar o quanto aquela pessoa foi importante e fazê-la se sentir valorizada. Lideranças podem ser despertadas assim.

8) Dar testemunho de vida coerente
Este mandamento é básico. É possível estar a frente de um grupo, cobrá-lo de compromissos e o próprio cobrador não viver estes mesmos compromissos? Respondo, sim é possível. Já vi grupos assim. A pergunta agora é outra: "É motivador participar de um grupo como este?". Não, não é.
Há uma frase que um colega da PJMP assinava em seus e-mails que ainda hoje soa como uma grande verdade: "Palavras comovem, mas exemplos arrastam". Eu posso ser um excelente orador, mas se meu modo de vida não corresponder àquilo que eu digo, sou um contratestemunho do que eu mesmo falo. Pelo contrário, posso não falar bem em público, mas minha doação, minhas atitudes podem falar mais do que eu acredito e motivar mais as pessoas a acreditar no mesmo.
Na reunião ampliada da PJ do regional Sul 1 deste ano, o lema adotado tem muito a ver com isso. É uma frase de Dom Pedro Casaldáliga que diz: "Ser o que ser é. Falar o que se crê. Crer no que se prega. Viver o que se proclama. Até as últimas conseqüências." Depois de Dom Pedro, eu não digo mais nada a este respeito. Calo-me e medito.

9) Ter empatia
Saber se colocar no lugar do outro. Tentar sentir o que o outro sente. É neste sentido que compreendemos empatia. Quem está a frente de um grupo precisa aprimorar esta característica de perceber quando alguém está calado demais, ou com o comportamento diferente. Aí, num intervalo ou em outro momento, ele se aproxima da tal pessoa e tenta conversar a respeito. Quando um jovem se sente valorizado, ele se interessa mais pela caminhada do grupo e confia mais na pessoa do coordenador. Os momentos propícios para se conhecer melhor os jovens são os momentos de lazer e informalidade. Todo grupo precisa disso.

10) Ser entusiasmado
Gente chata, mal humorada, ranzinza não motiva ninguém. No máximo geram piedade. Mas não aglutinam, ajuntam, cativam outras pessoas. E no caso da juventude isso é bem característico. Contagie-se e deixe com que os outros se contagiem com o seu entusiamo. Isso anima o seu grupo e faz com que ele caminhe de forma mais leve e agradável. Dificuldades sempre existirão. Deixar-se abater por elas, no entanto, não é obrigatório. Como eu disse num outro artigo, a gente pode aprender muito com as dificuldades.

"Pronto. Já li os dez mandamentos. Posso ser um excelente coordenador!!!" A gente sabe que a coisa não é assim, só teórica. Exemplos podem ser vários e não se esgotam as características de uma boa coordenação nestes 10 itens. A realidade de cada lugar exige características próprias. Não está listada acima, mas uma propriedade indispensável de alguém que esteja a frente de um grupo é a criatividade. Roteiros prontos nem sempre funcionam. Modifique, adapte, adeque a sua realidade. Faça novo e faça diferente. Isto é Pastoral da Juventude.